sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Portugal

(por José da Mata)





















Despojos, lixo,
acompanham-nos ao longo das estradas –
não há dúvida: Portugal
é dos portugueses
embora aparições de santinhos
não hajam já nas ladeiras nimbadas.
São agora memórias pitorescas
e como tal perduraram
na pequenez das coisas de cá.
É por cá: nos finais de Inverno
acácias de amarelo tingem os chãos –
prenúncios ou frágeis metáforas
da vontade de mudança?
Ou foram antes as suas copas
há pouco entumecidas e vaidosas
que com despudor abortaram a sua prenhez?
Paisagem minada de subtis destruições
para te entendermos teríamos de te varrer enovelados
como torvelinho pela suave brisa soprado.
Enumeraríamos, fugazes, os teus ínfimos entes
expiaríamos o pejo emaranhados em ti pois sabemos
que paredes-meias que não tens com esta via
decrépitas veredas se afundam em teus vales.
Onde paira o motivo pelo qual invisíveis
aos nossos olhos se tornam as coisas de cá?
De quão longe assoma este renegado querer
repetidamente e a tempos ao medo vergado?


(ilustração: "Sem Título", nuno de matos duarte, tinta-da-china s/ papel)

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